Peço permissão para uma pausa pessoal. Estive muito ocupado com vários problemas de saude entre os meus, bem como com outros problemas bem prosaicos. Meu genro já foi operado, minha filha vai ser a próxima, já renovei minha CNH, já fiz os exames que tinha que fazer... acabou?
Claro que não. Mas vai se levando a vida como se pode. Felizmente os problemas particulares que estão me mantendo afastado do meu blog são insignificantes perto de outros que assolam esse mundo doido.
Mas hoje estou realmente chateado.
Um grande amigo meu, o Chico Borges, partiu para o andar de cima.
Ele era locutor de cabine na TV Tupi e apareceu na dublagem, graças ao Cazarré. O nome artístico dele era FRANCISCO JOSÉ. Só que eu já estava na dublagem; há pouco tempo, mas já estava. Para não haver confusão nas escalas, ele passaria a adotar o nome de FRANCISCO BORGES.
E nos tornamos amigos. Ele esteve no meu casamento. Quiz até fazer discurso, mas o demovi a tempo, visto que só poucos parentes meus estavam presentes, era uma cerimonia bem íntima.
Muito tempo depois, estive no casamento dele com a Lourdes. Até brincávamos, porque isso foi depois de promulgada a lei do divórcio. Então, ele ia se casar com a mesma mulher depois de anos?!
E continuamos amigos pelos anos afora. Nós nos permitíamos o tratamento de XARÁ. Além de muitas outras afinidades.
E eram muitas rodadas de palitinho com o seu João Valério, que só era menor do que seu enorme coração. Seu João morava perto do aeroporto e, na sua kombi, dava carona ao Xará, que morava na Vila Nova Conceição, e a mim, não sem antes passarmos pela Bela Vista, em lugares que seu João Valério conhecia por causa da linguiça calabreza de primeira. Mas antes tinhamos que passar pelos botecos para "mais uma". Por essa época eu ainda morava no centro de São Paulo. Esse périplo era quase que diário e sempre haveria o dia seguinte para mais uma...
No dia seguinte, todos estávamos no trabalho como se nada demais houvesse acontecido.
O tempo passou, mudamos de empresa, de endereço, eu até de estado.
Trabalhamos em outros lugares, já sem o seu João Valério, que tinha ido para o andar de cima.
Ganhei certa vez um relógio do Xará. De corda ainda, pois que os modernos ainda não existiam.
Esse relógio eu perdi num dos roubos de que fui vítima.
Meu último trabalho de direção de dublagem em São Paulo foi um seriadinho de desenhos animados, o Sinuca e Borba. Era sobre uns matutos americanos, Barney Google e Snuffy Smith.
Na adaptação para o português ficou Sinuca e Borba.
Dirigi os 4 primeiro episódios escalando a mim mesmo como Borba e o Xará como Sinuca. Eram tipos muito divertidos.
Mas houve uma fofoca muito forte e eu preferi pegar o meu boné e vir para o Rio.
15 dias depois, para minha surpresa, o seriadinho veio para ser dublado num estúdio do Rio, porque o cliente queria manter o mesmo elenco principal.
E terminamos aqui no Rio a dublagem deste seriadinho. Os fixos eram Francisco Borges, Francisco José e Iolanda Cavalcanti. A direção foi entregue ao Jorgeh Ramos.
Nessa época eu estava me firmando aqui no Rio. Aconteceu de eu receber o pagamento de uma quinzena. Eu precisava mandar dinheiro para minha família, que ainda estava em São Paulo.
Quem foi o portador? Só podia ser meu amigo de fé, meu irmão camarada, Chico Borges. E ele o fêz com uma presteza extraordinária...
O tempo passou mais um pouco e eu precisei entrar em contato com uma autora de teatro de São Paulo. Quem me socorreu mais uma vez? O Chico Borges. Foi nosso último contato. A vida nos separou pela distância, não pela amizade.
Dia desses, pelo Marco Antonio, recebo notícias de um blog que trata da AIC-São Paulo, notícias de dubladores que faleceram. Lá estava o nome do Chico Borges.
Não acreditei a principio. Sabia que o Chico tinha andado doente. Hoje tive a ideia de procurar na página da AIC. Lá está a notícia com data e tudo. Não vou postar nada no forum da pagina, porque tive muita coisa em comum com o Xará. Mas aqui eu posso dizer mais do Chico.
A morte não existe, é apenas uma mudança de plano. Sai-se de um plano terrestre e vai-se para a Pátria Maior.Nessa Patria Maior vamos estar verdadeiramente com espíritos amigos e, à medida que evoluímos, chegamos mais perto do Criador.
Pelo que conheci do Xará, tenho certeza de que ele agora está bem agasalhado e rodeado de grandes amigos.
A partir de hoje, há um espaço reservado ao Chico Borges em minhas orações.
Um amigo muito especial.
Nenhum comentário:
Postar um comentário